quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

ainda sem título (parte 2)

Parte 2

Hoje faz um frio seco e o gato preto se lava.
As musas aparecem à minha frente nuas, e confesso sentir um certo tesão por elas. Elas brincam com os gatos e carregam um cesto, mas daqui de onde estou não posso ver o que carregam dentro dele. Frutas talvez, ou então flores de setembro.
Me atraem... sim, sinto que deveria segui-las, mas por fim fico aqui parado e tarado (uma rima para divertir o leitor) pela beleza do jogo entre as musas e os gatos.
Todos se vão e quando olho para trás a gata siamesa prenha está sentada me observando. Trocamos alguns olhares e ela sai para buscar comida.

Ás vezes sinto que sou visto sem ser percebido, ou seria o contrário, perceber sem ver... muitas vezes fico confuso com a construção das palavras idéias. Muitas vezes sinto que...
Na verdade o que eu sinto é uma tontura avassaladora neste momento preciso. Neste momento preciso eu preciso... (arghhh mais uma vez este jogo de palavras).
 TUM.

Preto... preto... preto...
                Nada...
Uns fragmentos... umas luzes à minha volta. Ouço pessoas que riem. Não sei, não posso ver. Estou com os olhos cerrados e não posso abri-los.
Nessas horas sinto que será assim... será porque ainda não é... sinto que partirei assim, num piscar de olhos, e TUM, então já não sei mais. Talvez uma musa possa aparecer para me fazer uma punheta, ou então...

Pausa. Dói demais pra continuar. A dor é forte agora. Sinto como se estivesse sendo sugado pela terra. Como se eu estivesse virando raiz... os meus braços, por exemplo, não têm movimento próprio. Minhas pernas formigam e meu fígado faz um esforço para tentar sair do meu corpo.

Grito.

Gritar é bom, principalmente se ninguém te escuta. Na verdade este era um momento para eu ser escutado, mas enfim, estou enraizado. Estou tomado pela dor e pela imobilidade.

Devo sentir algum prazer nisto tudo. A dor, as musas... sim as musas...
O melhor é pensar nelas e ver se essa dor passa.


Pausa.
Neste momento ele está caído no chão.
Pausa 2.
Neste momento nada pode ser descrito. Palavras faltam, imagens não cabem mais.
O que vemos é isso...
Ele estatelado tenta narrar sua “afrodisíaca” aflição.
O vento cessa. As plantas cobrem-no.
Pausa 3.

Respiro. Respiro para dentro, isto é, inspiro. Inspiro o vazio do meu corpo. O corpo oco que dói sem avisar. Dói sem fazer barulho. Alguns corvos cantam no meu ouvido. Vieram me ninar talvez...


Tento me levantar com mais esforço desta vez... tento desenraizar.
Desenraizei as mãos... consigo tirar meu tronco do chão e agora já estou de pé.











Continua...

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